10.9.09

NO MEIO ESTÁ A VIRTUDE...

"Todos pensam em deixar um planeta melhor para os nossos filhos...
Quando é que pensarão em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

4 comentários:

CSilvério disse...

Boa noite.
Neste caso específico da educação sou mais adepto da versão 1966 a começar na escola primária. Como diz o ditado: "É de pequenino que se torce o pepino". Não conheço ninguém da minha geração que ficasse traumatizado com o ensino da época. Uma coisa não tenho dúvidas nenhumas. Ficámos muitissimo mais bem preparados do que agora apesar da técnica de memorização usada.
E nunca percebi porque o Ministério da Educação tem vindo ao longo de vários anos a retirar poder, nomeadamente os disciplinares, aos professores. Alguém sabe explicar?

Alexandre Correia disse...

Olá Madalena,

Este é um tema realmente preocupante em Portugal. Desde há vários anos que sinto que os sucessivos Governos, ora de um, ora do outro partido que têm monopolizado a governação do nosso país desde a fim da ditadura, têm vindo a desenvolver uma campanha mais ou menos subtil no sentido de convencer os portugueses de que a solução em termos de educação e de saúde passa pelos privados. E o mais grave é que estas soluções têm cada vez mais adeptos, que não conseguem sequer entender que se trata de uma maquiavélica manipulação. Relativamente à saúde, assente em seguros, o sistema funciona perfeitamente enquanto tivermos em boa forma, mas assim que surge um problema de saúde um pouco mais complicado, lá se esgota num instânte o valor do nosso seguro e mesmo que estejamos hospitalizados numa unidade privada, somos transferidos sem dó nem piedade para um hospital público. Quem tiver dúvidas, que experimente por si e logo verá o que acontece...
No caso do ensino, a situação é ainda mais grave, porque está a pôr em causa o futuro do país, que se imagina cada vez mais pobre. Não só pobre no contexto económico, embora esse seja preocupante, pois os indicadores da União Europeia apontam para que na década de 2020 Portugal se posicione no último lugar entre os 27 países da comunidade. A pior pobreza é a dos valores, que actualmente já são tão baixos que faz do nosso um país particularmente mal educado. Isso mesmo, a nossa maior pobreza é em educação!
Trata-se de uma consequência de várias gerações meio perdidas nesta matéria. E se os próprios pais são mal educados, porque os pais deles também eram, como poderão eles ensinar os filhos a ser outra coisa senão...mal educados?
Eu próprio passei pelos dois tipos de ensino: oficial e privado. Nos anos 70, início dos anos 80. Salvaguardando o facto de ter apanhado muita pancada dos vigilantes, director e chefe de disciplina do colégio, em qualquer dos modelos tive bons e maus professores. No público, o meu primeiro professor de matemática fez-me odiar matemática. No privado, o professor de português ria-se quando eu dizia que queria ser jornalista; chorava a rir e nunca me deu mais do que 12/13 valores, os mínimos positivos, mas ele nunca soube que grande parte dos 17, 18 e até 19 que deu aos meus colegas eram, na realidade, belos trabalhos que eu vendi. Isso foi uma lição importantíssima, que o professor nunca soube que me deu. Ensinou-me, de forma dura, para eu não me esquecer nunca, noções fundamentais de justiça e de respeito, sempre que procurava humilhar-me (é o termo adequado), mas ensinou-me também a acreditar em mim próprio e a saber viver bem sem ter os holofotes a incidir sobre mim: nunca subi ao palco para receber os prémios, mas sempre soube que era o meu trabalho que estava a ser aplaudido e isso bastava-me.
Claro que não é nem com pancada, mesmo as velhas reguadas nas mãos, nem com escolas privadas onde os alunos são considerados clientes e os professores são severamente punidos por ajudarem os piores alunos a melhorar, simplesmente porque os colégios não querem maus alunos, para não estragarem o posicionamento no "ranking" das notas mais elevadas. O problema começa por ter de resolver-se em casa, com pais a reconhecer que não tiveram educação e não estão em condições de educar os seus filhos, nem de lhes transmitir senão maus valores, ou, quando muito, valores errados. O cartoon traduz a situação actual com um realismo preocupante. Porque é assim mesmo. Todos os pais acham que os seus filhos são o máximo, nem admitem questionar a educação que (não) lhes deram, e não aceitam que os professores, essa corja, maltrate os seus meninos com más notas. E o pior é que isto é transversal a toda a sociedade, desde os bairros mais luxuosos e ricos, aos mais simples e pobres.
Sobre este assunto, há tanto para falar. Mas este é, no essencial, o meu ponto de vista!

Beijo,

Alexandre Correia

Madalena disse...

Viva, Alexandre! Fico feliz por teres finalmente conseguido entrar no blogue e deixado o teu ponto de vista. Este tema, lançado ao debate pelo meu irmão João, que vive no Brasil, foi comentado por mim inicialmente, do ponto de vista que abordas e que é a base de todas as questões, em todos os tempos: a crise ou não de princípios e de valores, tema com que iniciei este blogue. A colocação do cartoon que intitulei de "NO MEIO ESTÁ A VIRTUDE", sem comentar, foi a resposta possível à complexidade e importância desta problemática, enquanto alicerce fundamental de qualquer sociedade que se pretenda séria, rica, solidária, desenvolvida e humanizada - a EDUCAÇÃO. Este espaço também dificulta o tratamento cuidado que o tema merece. Por isso, do meu ponto de vista muito superficial e precário a que a experiência não é alheia e se sobrepõe a toda e qualquer teoria por muito valiosa que ela se apresente nas declarações de intenções, é de facto que nem a Educação dos anos 60 era perfeita nem a do nosso tempo assim será, por motivos totalmente distintos.
Conseguir-se o equilíbrio entre a autoridade respeitada pelo reconhecimento do mérito e da vocação dos idos anos 60 (rejeitado o predomínio do medo e do temor reverencial existentes em muitos contextos sociais e escolares de então) e a liberdade responsável e promotora de criatividade e desenvolvimento individual e colectivo dos dias de hoje (rejeitada a generalizada demissão das responsabilidades partilhadas dos pais e professores, enquanto educadores em esferas distintas de intervenção mas indissociáveis e complementares) é, do meu ponto de vista, o pilar intemporável e base de todo e qualquer sistema educativo que se pretenda eficaz e reconhecido.
Do meu ponto de vista, só através do exemplo inequívoco e inquestionável dos seus agentes, suportados na autoridade e legitimidade do cargo e do mérito do desempenho, a mensagem do cartoon deixa de fazer sentido. Nem o contexto em que vivem as famílias, a escola e a sociedade são as mesmas de há 40 anos nem as relações interpessoais, a globalização do conhecimento e da comunicação permitem soluções eficazes que não tenham em conta esta realidade. Há pais e professores de todos os tempos que carecem de vocação para o exercício responsável da sua função enquanto educadores. Há pais que, como dizes, não sabem o que o são e porque o são e que ignoram as consequências da sua permissividade e incapacidade enquanto educadores e professores que o são porque não encontraram a profissão para a qual estariam mais qualificados e motivados, faltando-lhes a vocação essencial para a finalidade a que se propuseram ao aceitarem o cargo.
Sempre assim foi e será. Do meu ponto de vista, compete ao Estado e à sociedade civil em geral, a todos nós, contribuir para a minimização destas e outras disfunções, para a manutenção do equilíbrio desejável e do respeito pelas instituições e seus representantes, sejam elas públicas ou privadas. Para que os nossos filhos, as futuras gerações, continuem um dia, como eu e tu, a recordar com um sorriso de gratidão os excelentes professores que nos acompanharam e marcaram profundamente pela positiva, quer nos idos anos 60 quer na actualidade, independentemente do estabelecimento de ensino onde leccionavam. E olha que eu fui uma aluna muito ladina! Tal como o título de um filme bem antigo, estilo "Madalena, zero em comportamento".
Apesar de tudo, continuo a ter confiança na validade e na aposta na Educação enquanto motor fundamental de uma sociedade melhor.

Madalena disse...

Já repararam que as expressões de raiva e de gritos do cartoon são comuns em ambas as épocas? Lá está, no meio está a virtude...
O equilíbrio é contrário ao descontrolo e este é mau exemplo de quem quer ser respeitado sem se dar ao respeito.
E, já agora, desculpem-me as gralhas ortográficas que ficaram a dever-se ao adiantado da hora e à não revisão do texto, sendo certo que ainda não há, que eu saiba, pilares "intemporáveis" mas intemporais...pelo menos por ora e enquanto o tempo não for reinventado. Um abraço a todos os seguidores.