KImdaMagna perguntou-me, nos comentários a MOMENTOS INSTANTES, "que ligação entre o Chiado e a Welwitchia?"
Respondi que "talvez haja alguma ligação, quem sabe? O Chiado é um dos bairros mais emblemáticos e com mais história da cidade de Lisboa. A Welwitschia Mirabilis é uma das plantas mais emblemáticas de Angola. Tal como o Chiado, tem características únicas e só existe no deserto do Namibe, em Angola e na Namíbia.O Chiado só existe em Lisboa.
Há sempre uma ligação entre as coisas, as pessoas, os seres vivos. É uma questão de querer encontrar o elo."
Mas a minha ligação pessoal Welwitchia-Chiado, é feita de elos de vida e fica muito para além de qualquer dado objectivo, histórico, científico ou geográfico.
É feita de circunstâncias, de oportunidades, de experiências que se nos oferecem e que se tornam únicas pelo momento, pelo instante, pelo espaço e pelo tempo como as vivemos; pelo modo como estamos permeáveis e absorevemos as sensações e as emoções que a descoberta, o espanto, o conhecimento e o belo provocam em nós e em nós ficam registadas para sempre, algo muito difícil de explicar mas que se sente e faz vibrar cá dentro, só de pensar.
As fotos, as palavras, não chegam para agarrar esses tais momentos-instantes que vivi no café A Brasileira , no Chiado. Ecrevi há quatro anos aquele apontamento - o sentir hoje é igual. Com a diferença de que não voltei lá a entrar. Prefiro ficar com a memória intocável e confortável de tempos, como digo, que já não são.
A materialização em fotos ou escritos dos nossos sentimentos, dos nossos sentires, é sempre incompleta.A tentativa de se tentar agarrar esses estados de alma vivenciados em outros contextos é, por vezes, dolorosa e desilude.
Por isso, há sempre espaços para novos pontos de vista.
Alguns, não os quero intencionalmente perder ou rever. Não por conservadorismo, nostalgia ou sentimentalismo. Mas porque me enriqueceram como pessoa e desafiam-me, por isso, a ficar sempre atenta e aberta ao mundo no seu todo, a pensar e reflectir sobre ele, a crescer mas com raízes firmes, com referenciais que me ajudam a alimentar e expandir a alma e o conhecimento, mas sem perder o elo que me liga a mim mesma , a minha identidade.
Deste ponto de vista, o elo comum entre o Namibe, onde radica a Welwitivhia, e o Chiado, onde radica A Brasileira, está no facto de se tratarem de locais que não me deixaram indiferente e que despertam de alguma forma o melhor que há em mim, como tantos outros que vou rememorando e percorrendo por estas páginas avulsas. Numa espécie de contradição interna entre o que sei não conseguir transmitir e o que sei valer a pena objectivar, recordar ou repensar, por muito incompleto que seja o testemunho, a foto, o olhar.
Aqui fica a interpelação e o desafio:
Que ligação entre a Welwitchia (Namibe) o Chiado (Lisboa)?