31.12.09

POR KAIROS EM KRONOS!

UM TEMPO QUE PASSOU
Vou
uma vez mais
correr atrás
de todo o meu tempo perdido
quem sabe, está guardado
num relógio escondido por quem
nem avalia o tempo que tem.

Ou
alguém o achou
examinou
julgou um tempo sem sentido
quem sabe, foi usado
e está arrependido o ladrão
que andou vivendo com meu quinhão.

Ou dorme num arquivo
um pedaço de vida
a vida, a vida que eu não gozei
eu não respirei
eu não existia.

Mas eu estava vivo
vivo, vivo
o tempo escorreu
o tempo era meu
e apenas queria
haver de volta
cada minuto que passou sem mim.

Sim
encontro enfim
iguais a mim
outras pessoas aturdidas
descubro que são muitas
as horas dessas vidas que estão
talvez postas em grande leilão.

São
mais de um milhão
uma legião
um carrilhão de horas vivas
quem sabe, dobram juntas
as dores colectivas, quiçá
no canto mais pungente que há.

Ou dançam numa torre
as nossas sobrevidas
vidas, vidas
a se encantar
a se combinar
em vidas futuras

Enquanto o vinho corre, corre, corre
morrem de rir
mas morrem de rir
naquelas alturas
pois sabem que não volta jamais
um tempo que passou.

Poema: Chico Buarque
Música: Sérgio Godinho, Um tempo que passou

In: "coincidências" 1983
Luís Alçada

2 comentários:

romério rômulo disse...

madalena:
te encontrei com a poesia de angola.
romério

Anónimo disse...

A Madalena, criadora deste blogue em 2009, faleceu aos 62 anos em 25 de março de 2014.
Eu, sou uma das irmãs, tenho ativa automaticamente a ligação no iPad, mas não sei a password mais e receio perder esta relíquia.
Assim vou avisando que não continuou este espaço que era promissor e inspirador... vou reformar-me e espero poder copiar um dia para um blogue, tudo o que aqui está.
Obrigada
Maria Isabel
9 de junho de 2021