28.12.09

EM JEITO DE REFLEXÃO

Quando o melhor do mundo são as pessoas,
Quando a harmonia na diversidade é riqueza, descoberta e paixão,
Quando a miríade de tons e cores, rostos e sorrisos, trajes e dialectos, nos enchem de um doce conforto interior e nos estimula a criatividade e o sentimento,
O mundo será sempre melhor, mais rico, mais deslumbrante, mais belo, mais humano, como coros em catedrais, cantando o sublime a uma só voz.
Em jeito de reflexão, um 2010 com e pelas pessoas.
Com e pela Humanidade.
E convosco, por um mundo melhor.

2 comentários:

Alexandre Correia disse...

Olá Madalena,

Ainda não fui a Goa, mas já atravessei demoradamente a Índia. Da velha Índia Portuguesa, estive apenas em Baçaím, uma cidadela arruínada e perdida a cerca de uma centena de quilómetros de Mumbai — para norte, na costa... — onde me impressionou a missa que estava a ser celebrada na igreja local, pela quantidade de fieis que afluiram, indiferentes ao estado miserável do templo, que não inspirava grande confiança; não entendi o sermão, mas talvez tenha sido o único que permaneceu indiferente às palavras do padre. Dali, segui Índia a dentro, não pelas rotas turísticas, dos palácios dos Marajás e dos parques onde outrora se caçavam tigres, mas sim pela Índia que não figura nos roteiros, salvo a passagem por Varanasi, onde também desci as escadas que conduzem ao Ganges e, como todos os turistas, não resisti a levantar-me de madrugada para ir ver o sol a nascer, apreciando esse espectáculo desde um pequeno barco a remos, navegando vagarosamente no rio, enquanto em terra se ateava fogo a mais uma pira funerária. Ali, a morte celebrava-se não com a tristeza que caracteriza os nossos funerais, mas sim com um certo misticismo e recolhimento, próprios da celebração da passagem a outra dimensão. O mundo são sempre as pessoas e em cada lugar do mundo as pessoas são diferentes. E em todos os lugares há as boas e as más pessoas. É inevitável. Mas, até porque somos todos diferentes e andamos todos misturados, bons e maus, fazia falta a muita gente viajar um pouco, para descobrir as outras realidades e aprender um pouco com isso. Só assim se consegue entender que por muitas diferenças que tenhamos de região para região, a nossa essência é comum, o que nos permite, se quisermos, reter o melhor de cada cultura, de cada experiência. E é isso que nos torna genuínamente ricos, não a conta bancária. Aliás, são estas experiências que nos reduzem o saldo da conta, mas quando as aproveitamos, o que ganhamos com estas experiências não tem preço. Na Índia, ao conviver com tanta miséria como convivi sem, no entanto, encontrar a tristeza profunda que imaginava, mas sim uma fé tremenda, teria ficado sem dúvidas, se ainda as tivesse, de que vale sempre a pena esforçarmo-nos por viver em paz e tranquilidade cada dia, acreditando sempre que amanhã será um dia melhor. Nem sempre é, mas continuo a acreditar. Nisso e que há boas pessoas, no meio de tantas, mesmo tantas, que não se arrependem de ser más, ou nem se dão conta de serem indiferentes.

Beijo,

Alexandre Correia

Madalena disse...

Assim é, Alexandre, assim é. Também eu conheci essa Índia fora das rotas turísticas tradicionais e para além delas. A Índia dos contrastes, da multiculturalidade, da miséria e da riqueza, da fé e da resignação, da crença e do misticismo, da devoção e da alegria, do recolhimento e do silêncio. A Índia do saber, da inteligência, do conhecimento, das cores e dos sabores, dos cheiros e dos sorrisos, do respeito e da tolerância, da natureza e da espiritualidade. A Índia histórica e monumental e a Índia fabulosa no seu potencial e riqueza humanas.
A Índia que se descobre de cada vez que se lá vai e nos enriquece como pessoas. A Índia que nos remete para a relatividade e insignificância dos nossos caprichos e protestos. A Índia plural, que consegue conviver em harmonia com os opostos e com a adversidade e entendê-los. E contestá-los. Serenamente.
A Índia de Gandhi.
E de tantos outros.
Um beijo e obrigada pelo contributo das tuas palavras.