31.8.12

SEDENTAS

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!

Florbela Espanca, Árvores do Alentejo






















30.8.12

IMPASSE


Espero, virada do avesso, pela saúde que me deixou, assim de rompante, violentamente, sem mais.

Nem sei bem porquê.

Sobrevivo neste impasse e no desestruturado dia-a-dia.

Olho pela janela o mundo que vivi intensamente e que agora me surge estranhamente inerte e confinado.

Tento agarrá-lo pelas pontas, rebuscando nas memórias, nas paredes brancas de imagens, na varanda do meu quarto e nas janelas virtuais, ditas digitais, onde os dedos não sentem, o coração não vibra, os olhos não choram e a emoção é outra que não aquela que conforta a alma.

O vazio instala-se e tudo é estranhamente sublimado.

Espero, revolvendo dentro de mim, a génese, o sentido, o caminho, o horizonte, a liberdade.

Resta-me tempo no tempo que me falta.

Será no tempo e fora de qualquer lugar que voltarei a voar.




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